December 21, 2017

PRODUÇÃO DE SOJA NA CHINA 2017


Cultivares com pouco espaçamento entre nós.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Os Chineses, pelo menos os pesquisadores e professores de doutorado na universidade onde fiquei por quase um mês, são grandes defensores de biotecnologia na China. Durante todas as reuniões que tivemos, afirmaram que os benefícios dos transgênicos são maiores que os riscos. Assim como os riscos de radiação que celulares e redes wifi causam. Ou de que preferem a poluição do carvão como fonte de energia do que o uso de reatores termonucleares.

Como estávamos num grupo bem diversificado de profissionais, sempre ocorriam discussões muito interessantes sobre diversos paradigmas dentro da agricultura e o assunto sobre organismos genéticamente modificados são ainda um dos que causavam mais polêmicas. Porém, os chineses não plantam soja transgenica, é proibida para consumo humano.


COMO OS CHINESES CONSEGUIRAM PATENTEAR UMA SOJA BT?

Não é permitido o plantio por um motivo simples. A China teve/tem algumas desavenças com a multinacional americana que patenteou essa biotecnologia, desde o lançamento da soja resistente a glifosato e principalmente pelo alto valor dos roylaties que queriam cobrar pelo uso dessa biotecnologia. Outro motivo foi que os chineses solicitaram que se a multinacional quisesse ingressar no mercado de sementes no país asiático, deveria ocorrer a transferência de tecnologia, ou seja, todas as técnicas e descobertas deveriam ser ensinadas para pesquisadores chineses. 

Resistente a percevejo
Esse acordo não ocorreu. A China ficou mais de 10 anos sem fazer pesquisas a fundo no desenvolvimento de novas cultivares de soja. E agora voltaram com tudo, soja resistente a lagartas, percevejos, metais pesados, seca e cultivares com arquiteturas bem interessantes. Tudo isso é irrelevante para os agricultores chineses, que não plantam sojas geneticamente modificadas. Essas sojas modificadas estão sendo pesquisadas para serem vendidas nas novas lavouras do continente armericano e é claro também na américa latina. Não demorou muito para os chineses descobrirem os processos de patente de biotecnologias já existentes e conseguirem registrar com novas patentes e principalmente novas variações que permitiram criar um novo registro sobre esse tipo de soja transgênica, patente diferente do da antiga monsanto, mas com exatamente os mesmos princípios. O que fez com que essa nova patente chinesa se enquadrasse como uma nova biotecnologia foi que perante a lei internacional, o registro estava limitado em 30% de semelhança na cadeia de DNA.  Da mesma forma para soja Intacta, onde os pesquisadores chineses conseguiram utilizar a mesma fórmula para registrar soja Bt, resistente a lagartas e outro evento que torna a soja também resistente a percevejos, mas esse com a biotecnologia CRISPR. Todos esses procedimentos e processos de pesquisas das biotecnologias nos foi mostrado durante o workshop na universidade.

Os pesquisadores chineses simplesmente inverteram algumas sequências nucleotídicas e alegaram a diferença, ganhando a patente. Ou seja, conseguiram criar os mesmos eventos biotecnológicos que a monsanto, porém com diferente métodos de sequenciamento. Sem precisar pagar um pila de roayalties. Portanto, o motivo pelo qual a China têm certa aversão dos transgênicos para platar em seu mercado interno é por motivos políticos e comerciais.

As cultivares de soja trasngênicas não estão sendo plantada na China, são todas para exportação em forma de germoplasma ou evento biotecnológicos. O objetivo dos chineses é comercializar essas biotecnologias com outros países inclusive o Brasil. Agora podemos pensar um pouco sobre essas várias aquisições de empresas multinacionais feita por empresas chinesas. Estão investindo milhões de dólares em pesquisas com melhoramento e biotecnologias em plantas de soja, porém o uso dessas plantas é extremamente restrito aos centros de pesquisas nas universidades e em campos experimentais de institutos oficiais do governo.
Lavoura com diferença na maturação. 

Por qual motivo os agricultores não plantam soja trasngênica na China?

O governo centralizador iniciou uma campanha junto aos agricultores chineses que uma empresa americana havia criado sementes de soja que iria arruinar e esterelizar os solos, causando mortes se fossem plantadas e que essa mesma empresa tinha como objetivo colocar os agricultores contra o seu próprio governo. Esse foi o argumento e é a explicação de como que os produtores chineses não plantam a soja transgênica que chegam em navios importados do Brasil, Argentina e Estados Unidos, mesmo chegando misturadas. Tudo isso ouvimos durante as conversas com os professores da universidade agrícola.

Já relatei sobre isso aqui onde pude analisar durante visitas em campos de demonstração e laboratórios de que a soja com tecnologia de resistência a lagartas da china é tão eficiente quanto a soja intacta ipro da monsanto. Acho que a briga futura das multinacionais serão entre Bayer/Monsanto e Syngenta, ou seja, China contra Estados Unidos e Alemanha, ou ainda, países desenvolvidos contra país em desenvolvimento.


A COR DO HILO

A soja com cor de hilo branco é a mais aceita e consumida no mercado interno deles. O tofu deve ser branco ou bege, e só consegue ter essa característica se utilizado grãos com cor de hilo braco. Portanto, a soja importada vem toda misturada, tornando quase impossível do agricultor chinês plantar. Além de ser transgênica e proíbido o plantio.

Na cabeça dos agricultores chineses, cor de hilo preto ou marrom é característica de soja ruim… Mas na verdade isso é uma questão cultural dos agricultores e não significa que a soja seja ruim. Mas é um fator de decisão deles, ao escolherem as cultivares de soja.

Os motivos pelos quais os agricultores Chineses preferem plantar milho ao invés de soja, primeiro é pelo preço que chega a ser até 2,5 vezes que grão de soja, e o segundo motivo é de que milho produz muito mais por hectare. . Neste mês de setembro, o preço pago pelo kg de soja produzido pelo agricultor era em torno de R$0,51/kg. Além do jogo de subsídio que o governo impõe para controlar as reservas de grãos.

Por alguns anos os chineses deixaram de investir em programas de melhoramento pela descoberta da Monsanto, referente ao gene resistente ao glifosato. De certa forma, ficaram descontentes com o registro da patente, tendo como a soja uma planta originária da China. E foi ai que a briga começou e segue até hoje. Muitos pesquisadores aindam buscam informações genéticas em plantas de soja crioulas para estudos sobre o sequenciamento de DNA.

Por mais paternalista e controlador que seja o estado chinês, ele deve se adequar a diversas leis internacionais. Uma dessas leis referem-se a condutas comerciais. Desde que a China passou a fazer parte da Organização Mundial do Comercio  não pôde controlar os preços dos grãos, ficando a mercê das principais trades do mercado internacional e que também atuam dentro do país asiático. É a OMC que tenta policiar esse mercado de grãos, evitando práticas anti-comércio. Dessa forma todo o mercado de grãos internacional tem como principal condutor a oferta e demanda. Claro que muito disso é regulado pelo consumo do mercado chinês, mas eu já escrevi aqui, que a reserva de grãos deles é de até 25%, ou seja, essa é a gordura da qual podem barganhar ou queimar durante as negociações de compra das commodities agrícolas.



EXPERIÊNCIAS TRANSFERIDAS

Um assunto que observei para o grupo foi a experiência negativa que tivemos sobre o início da soja resistente ao herbicida glifosato no Brasil, quando ainda não eram legalizadas, e que depois de algumas safras praticamente todos produtores já utilizavam. Utilizaram por forças maiores da necessidade da revolução agrícola que ocorria no nosso país hermano.

Digamos que foi como aconteceu com o Uber...! Forçando o governo, atrasado, a tomar uma atitude para liberação. Vocês lembram as notícias dos protestos dos taxistas? Então, durante a liberação dos transgênicos foi parecido, porém muito mais intenso, pois cutucava ideologias e negociações de royalties. Tanto é que crucificaram vários da CNTBio e principalmente os produtores rurais, que eram como se fossem os usuários de Uber quando lançou o aplicativo e ainda não era legalizado, mas era muito usado.

Dessa forma, o governo não teve nem tempo de dar explicações a população sobre os benefícios ambientais que os transgênicos trariam para o meio ambiente, em médio prazo. Esse atraso na legalização causou decadência e bagunça no mercado brasileiro de sementes durante 10 anos e com sequelas que se perpetuam até hoje.

Comentei da parte boa também, que se não fossem essas biotecnologias com certeza a produtividade não teria aumentado e estaríamos ainda usando muito mais herbicidas ou inseticidas nas lavouras. E ainda, não teríamos sobra de grãos dos quais podemos exportar para alimentar os suínos, aves, peixes e fazer o óleo vegetal dos chineses.

Integração Lavoura Pecuária (ILP) também foi um assunto que tive a oportunidade de apresentar para o grupo de pesquisadores do programa e também para mestrandos e graduandos da universidade agrícola. Como ex-aluno da faculdade de agronomia da UFRGS, tive o Professor Paulo Carvalho como grande influência e mentor deste assunto.

Poder ter levado para China e difundido os princípios da ILP, como ferramenta aliada à segurança na produção de grãos, foi como poder ter retribuído para o professor todos os ensinamentos e oportunidades que ele me ofereceu durante a minha época de estudante de agronomia. E hoje buscamos aplicar esses conceitos de integração na sociedade agrícola em que atuo.




SOJA HÍBRIDA: uma breve descrição.

Insetos da família Megachile são responsáveis, junto com outras abelhas, pelo processo de produção de soja híbrida. É responsável pelos primeiros trabalhos de produção de soja híbrida nos Estados Unidos, Megachile rotundata ou Megachile. Esse inseto , que também é um tipo de abelha, corta e come a pétala das flores, esterilizando a planta e impedindo que ela se auto fecunde. Dessa forma, podendo ser polinizada por outra cultivar com a floração sincronizada. O problema é que ainda não descobriram como tornar essas plantas machos-estéreis mais atrativas para as abelhas polinizarem.

Para não perder ou que essas abelhas se dispersem, os pesquisadores descobriram que plantando alfafa próximo da área de produção, as abelhas são atraídas. Nesse momento devem ser capturadas.

A descoberta já faz alguns anos, porém o método para polinização cruzada em soja é o maior desafio.

A China já têm alguns trabalhos com produção de soja híbrida, porém essa abelha só é encontrada nas Americas, portanto todos os trabalhos são com abelhas importadas dos Estados Unidos. Também estão pesquisando outros métodos de esterilizar plantas, evitando a autofecundação e obter polinização cruzada.

Se esses métodos de produção de soja híbrida ocorrer, teremos produtividades próximas ao do milho e do arroz, que ultrapassam 10.000kg/ha. Entraríamos em um novo patamar na produção de soja. Acho que isso não esta muito longe de acontecer e a resposta está na observação da própria natureza.

Pra quem quiser ir mais a fundo no assunto, Aqui esta o trabalho a partir de 2006 do registro desta técnica de polinização. E aqui o número de outras patentes referente a produção de soja híbrida, todas na America do Norte.

A China pretende se tornar o país líder em biotecnologias nos próximos 20 anos.









Óleo de soja com grão importado: +- R$8,00 por litro


Estufas de tomates e cidade ao fundo

Seleção de espigas para milho varietal.






Campo experimental


Leite de soja, rico em vitaminas.


SORGO

Uma breve descrição sobre o cultivo de sorgo na China. O Sorgo está sendo uma boa fonte de renda para os agricultores que preferem uma planta mais rústica que o milho ou para utilizar em áreas mais úmidas. A China já utilizou muito mais o sorgo e seus subprodutos do que atualmente, mas vem fomentando esta cultura como forma de diversificar a produção nas propriedades. O plantio é recomendado de forma que as plantas fiquem bem adensadas, um dos motivos é para evitar que pássaros consigam comer, pois dizem que é um grande problema. Na verdade, o pássaro come o sorgo, e o chinês come um pássaro farto. Sim, o que eu vi de estilingues, arminhas de pressão como espingardas e revólveres foi incrível. Eles matam muitos pássaros, mas não matam a toa, sempre com algum propósito, por mais que essa prática seja de certa forma proibida por aqui. Mas então, como que o governo consegue incentivar os produtores a plantarem sorgo? Muitas vezes é por imposição, quando na existência de "cooperativas" que vem assumindo o controle das áreas agrícolas. O uso para alimentação humana do sorgo corresponde a 10% da produção, 8% para produção de bebida alcóolica que é um tipo de cachaça chinesa variando de 21 até 47 de teor alcóolico e quase 80% dos grãos vai para a alimentação animal. Grandes projetos estão sendo desenvolvidos para utilizar o sorgo na produção de etanol como combustível. A Argentina é um dos grandes exportadores de sorgo para a China, mais de 10 milhões de toneladas vem dos hermanos. O plantio de sorgo era muito popular aqui, mas caiu mais de 10x a produção total, principalmente pela competição com o plantio de milho, que hoje é o segundo grão mais plantado na china depois do arroz. A cadeia mercadológica do sorgo é muito instavel e com falta de clareza na oferta e demanda.


October 15, 2017

CHINA: SISTEMA POLÍTICO SUPERIOR ?!


Nos anos que seguiram o fim da Guerra Fria, a política do ocidente foi confiante na adoção da democracia como sistema político, já que a consideravam superior e vencedor em relação aos demais experimentados ao longo do século XX, de acordo com Francis Fukuyama em um de seus livros.

Já a maioria dos analistas da sociedade político chinesa discordam, alegando que essa última década revelou muitas deficiências no sistema que nós do ocidente defendemos como impecável. Argumentam que falhamos em resolver os problemas econômicos, políticos e sociais na maioria dos países governados de forma democrática, incluindo o Brasil - que vinha com crescimento virtuoso desde o início do plano Real.


Em contraste, o socialismo com características chinesas é o que deu a propulsão para realizar o Sonho Chinês, (Hollywood que o diga com o famoso Amercican Dream que utilizaram para criar a imagem positiva) de REJUVENESCER. Esse é o termo utilizado pelo governo chinês para mobilizar toda a população e fazê-la aceitar as novas reformas e revoluções necessárias ao triunfo desse sonho.

 Congresso Nacional
De acordo com a professora Lyu Jia da Universidade de Tsianghua, o sistema democrático da China, sob a liderança do partido comunista (CPC), é perfeitamente adequado e atual para as tradições culturais do país que sobrevivem até hoje. O governo chinês tem em torno de 90 milhões de servidores, sendo 30 milhões trabalhadores agrícolas, os quais podem ter outro emprego, além de trabalhar para o governo.

Ao contrário de todos os partidos políticos ocidentais, que representam os interesses apenas de parte da população, a atual forma de governo chinês representa o setor produtivo e a classe trabalhadora, ou seja: desde o mega empresário até os operadores industriais e trabalhadores do campo.

Além disso, a professora afirma que a China é a única civilização antiga que continuou a evoluir por mais de 5 mil anos sem pausas. E o engraçado é que não se tem como confirmar essa informação para antes dos anos 60, devido ao fato de o país ser, o que podemos chamar de, “introspectivo”.

O atual governo chinês herdou uma civilização rica em tradições culturais, as quais são mantidas e cultivadas com o objetivo de servir a nação e o seu povo e prover uma economia próspera. Essa pujança contraria alguns estudiosos ocidentais, que durante a guerra fria previam um colapso da China. O país segue crescendo desde então, sem nenhuma retração.

As 3 principais razões para o crescimento econômico, estratégico, cultural e espiritual da China:

1. Planejamento de longo prazo: a maioria dos projetos são aprovados e colocados em prática com facilidades, já que não há limitação de prazo para sua execução, uma vez que o mandato do presidente é longo. Existe burocracia, claro, só que os projetos quando aprovados são levados à cabo com rapidez. O principal fator limitante são mudanças de políticas durante cada novo presidente que assumiria o cargo, o importante é fazer com que se tenha um projeto unificado a longo prazo, ao invés de ficar tapando buraco.

2. O governo priorizou a construção de uma nova economia, encorajando a população a trabalhar para o desenvolvimento econômico, deixando outros interesses de lado e criando programas para tornar setores improdutivos em produtivos, ou seja, ensinando a pescar em vez de dar o peixe. Outra característica é que não precisam de consenso sobre mudanças ou pequenas reformas, pois não dependem de votação no senado e câmara, já que o poder é muito centralizado. Ao contrário dos sistemas democráticos, em que vemos discussões intermináveis devido a múltiplos interesses por trás das mudanças, das quais estamos fartos... Na China o papo é reto.

3. O governo chinês sabe atender com equilíbrio aos interesses do povo e das pessoas no resto do mundo, pois tem um projeto de longo prazo para a construção de uma nação, não apenas considerando os interesses nacionais, mas também os internacionais. "Comunidade de destino compartilhado para a humanidade", esse foi o conceito do atual presidente chinês, o qual foi incorporado a uma resolução das Nações Unidas.

Mais de 20 anos após a guerra fria, o mundo continua a enfrentar ameaças como terrorismo, guerras entre norte e sul e problemas com refugiados. Em muitos países ocidentais, o populismo é desenfreado, além disso as pessoas detestam refugiados, chegando ao ponto de demonizá-los. E os políticos, falham em resolver esse problema pois não querem perder votos ou antagonizar com os eleitores.

Estive durante o feriado nacional em Beijing, e presenciei muito patriotismo entre a população chinesa. Sabemos que existem pessoas do mundo todo trabalhando em diversos setores por lá e mesmo assim não percebi nenhum tipo de discriminação. Talvez por esta e outras características que os chineses se adaptaram muito bem no continente africano. 

O governo chinês pode não ser perfeito, tampouco o sistema adotado, mas prova-se o mais adequado para AQUELE país. Tem servido à população como um todo, melhor que o estilo ocidental de democracia. Mas vimos que o tipo de regime implantado em Cuba, Venezuela e Coreia do Norte não funciona nem a pau, e nunca vai funcionar. Tu que te considera socialista, melhor mudar teus ideais e entender que a China por mais que tenha em seu nome de governo a palavra comunista, esta muito mais perto de um tipo de capitalismo adequado.


PIB do Brasil, China e Estados Unidos  publicados aqui

Fontes:

Anotações pessoais - Workshop of Safe Production of Grains, em Shenyang, China  Set.2017
                                  Workshop on seed technology production em Wuhan, China, Jul. 2016
The earliest Chinese Communist Party Online Information Source www.chinatoday.com/org/cpc/
Economic Inequality and Political Stability in Russia and China (PDFStephen White,Ian McAllister &Neil Munro Pages 1-7 | Published online: 31 Jan 2017
Francis Fukuyama, The End of History? (PDF) The National Interest N. 16 (Summer 1989), pp. 3-
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Agradecimento para Ana Carolina Dal Ben pela colaboração na conclusão deste texto.

October 9, 2017

ENGENHARIA DE IRRIGAÇÃO

O livro aborda o tema de tubulações e acessórios sob o ponto de vista de engenharia de irrigação, enfoque pouco explorado nos textos dedicados a essa área. Em razão do histórico de desenvolvimento da irrigação em nosso país, com a participação de poucos fabricantes nacionais, onde predomina a importação de equipamentos e tecnologias, os cursos de engenharia deram baixa prioridade para o ensino de dimensionamento de equipamentos, preocupando-se mais com a formação em projetos de sistemas. Dessa forma, esse documento procura dar uma perspectiva diferenciada para esse tópico, ampliando as informações e especificações técnicas de materiais, explicando os princípios de operação e detalhando procedimentos de instalação e métodos de manutenção de tubulações e acessórios empregados na irrigação.


Link do arquivo em PDF na imagem abaixo.


https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxtYXJjZWxvY2hpYXBwZXR0YXxneDpkM2JiM2YxZTBlNTBh







Engenharia de Irrigação: tubos e acessórios (PDF Download Available). Available from: https://www.researchgate.net/publication/285768877_Engenharia_de_Irrigacao_tubos_e_acessorios [accessed Oct 13 2017].

October 8, 2017

SOJA ORGÂNICA NO BRASIL


Uma das coisas que sempre pensei desde a época que estava cursando agronomia era como conseguir agregar valor em uma commoditie... Na faculdade ouve-se muito em diversificação de produção como ferramenta essencial para diluir o risco agrícola, integrar agroecossistemas e trazer maior segurança para o agricultor. Porém, nunca ninguem falava em agregar valor ao sistema atual dentro da realidade da maior fatia da agricultura brasileira, a produção de soja. Talvez como uma forma de diversificação dentro deste mesmo sistema produtivo...

Percebo que cada vez mais núcleos de produtores e consultores estão trabalhando para entrar em uma nova era da agricultura, além dos orgânicos. Algo muito maior, que envolva até mesmo blockchain

Quando vejo uma notícia como essa abaixo, fico pensando em como seria se a indústria falasse mais a respeiro nas feiras agrícolas, dias de campo ou palestra para agricultores. Claro, essa discussão dos orgânicos vai longe, e o ponto não é ideológico, mas se pensarmos que devemos ser cada vez mais resilientes, principalmente na agricultura, podemos crer que todo assunto novo deve ser discutido e conversado sobre dentro das empresas que mais movimentam recursos dentro do Agro.

Esa notício de abaixo é de alguns anos atrás, mas era difício de encontrar no google, por estar mal ranqueada. E pra deixar claro que acho completamente pejorativo o termo agrotóxico, ou então chamaremos um tylenol de toxilenol.

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Maracaju se manteve como maior produtor estadual, com 842,376 mil t. Maior produtividade foi registrada em São Gabriel, 56 sacas por hectare.

Segundo a Instrução Normativa nº 7, de 17 de maio de 1999, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, um produto classificado como orgânico “é aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados – OGM/transgênicos ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e, entre estes, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação”.

Um bom exemplo da tecnologia utilizada na produção da soja orgânica é a aplicação de bactérias fixadoras de nitrogênio, visando à fixação biológica desse nutriente, com o objetivo de reduzir a sua utilização por meio de fertilizantes. Já existem produtos no mercado com essas bactérias, que podem ser empregados no cultivo orgânico.

Apesar do maior custo de produção se comparada à soja convencional, a produção de soja orgânica vem crescendo a cada ano. Praticamente, toda a produção brasileira é exportada para a Europa, devido ao maior poder aquisitivo da sua população e a falta da cultura nacional em consumir produtos orgânicos.

A soja orgânica ainda não é uma commodity, pois não segue as normas de comercialização da Bolsa de Chicago. Por se tratar de um produto com valor agregado e possuir uma boa demanda, seu preço tem se mantido em uma média de até 50% maior que o da soja convencional, o que gera bons resultados aos produtores, apesar do custo de produção ser cerca de 10% maior quando comparado ao cultivo tradicional.

A soja, tanto convencional como orgânica, é rica em proteínas, tornando-se muitas vezes uma alternativa a outros alimentos, proporcionando uma alimentação isenta de colesterol e gordura saturada. Assim, podem ser controladas: a obesidade, a incidência de acidentes cardiovasculares, câncer, osteoporose e diabetes. Além dessas características, a soja orgânica apresenta a vantagem de ser cultivada sem agrotóxicos, sendo, portanto, um produto mais saudável.

Atualmente, os principais estados brasileiros produtores de soja orgânica são Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás. Para ser considerado orgânico, o produto precisa do selo de garantia emitido por uma empresa certificadora. No Brasil, as principais certificadoras são o Instituto Biodinâmico, a Associação de Agricultura Orgânica e o Ecocert.

A produção de soja orgânica é geralmente praticada por pequenos produtores. Contudo esse é um setor que está cada vez mais atrativo, aumentando o nível tecnológico de cultivo empregado.

O produtor interessado em cultivar a soja orgânica deve antes procurar um engenheiro agrônomo, afim de que este o oriente quanto aos procedimentos a serem seguidos para o seu plantio, pois, para cultivar a soja orgânica, é preciso seguir algumas normas, ser certificada por órgãos competentes, pois do contrário, não pode ser vendida como um produto orgânico.


Fonte:

http://sindiorganico.com.br/2016/05/10/dez-municipios-concentram-mais-da-metade-da-producao-de-soja-de-ms/

http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2016/04/dez-municipios-concentram-mais-da-metade-da-producao-de-soja-de-ms.html

October 6, 2017

A ARRUELA QUE ACABOU COM O LUCRO DO AGRICULTOR


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Essa é uma analogia que podemos fazer sobre as barreiras que impedem qualquer tipo de agricultor evoluir em sua atividade de produção, independente se é na produção de leite, carne, grãos, hortaliças, frutíferas... Vou transcrever aqui um baita texto elaborado por Miguel Cavalcanti, adaptado:
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Se você não está alcançando os resultados que você queria de produção, eficiência e principalmente LUCRO da sua fazenda, essa pode ser sua questão:

Depois do jantar, na noite de sábado do evento ao vivo do AgroTalento, dia 10 de junho de 2017, eu fiz uma sessão extra de perguntas e respostas com os alunos. Respondi umas 10 ou mais questões individuais. Todo tipo de pergunta sobre estratégia de agronegócios, trabalho em família e plano de carreira. Um dos alunos, me fez uma pergunta interessante, e ele não esperava o tipo de resposta que eu ia dar...

Em resumo, ele me disse:
Tenho um negócio (comércio) bem sucedido na cidade, que eu comecei do zero. Com esse negócio, comprei 2 fazendas. Gosto mais da fazenda do que do negócio da cidade. Quero focar meu trabalho na fazenda. Tenho trabalhado muito na fazenda, muito mesmo, mas não consigo gerar renda na fazenda. Me esforço muito, e não colho resultados.

Daí ele me perguntou:
O que eu preciso fazer para tornar minha fazenda mais rentável?
Ele esperava que eu fosse recomendar esse ou aquele produto.
Essa ou aquela raça.
Essa ou aquela tecnologia, manejo, capim ou ração...
Eu não fiz nada disso...

Minha resposta pra ele:
Você sabe fazer dinheiro
Ninguém começa um negócio do zero, compra duas fazendas, se não for bom no que faz
Você tem habilidades que geram valor e resultado no comércio
E como será que é isso na sua fazenda, no seu trabalho na fazenda ?

Ele olhou pra mim como se começasse a entender.
E eu continuei... Disse:

Talvez sem nunca ter pensado nisso, você sabe como gerar valor no comércio. Mas se não está gerando resultados na fazenda, provavelmente não sabe como fazer o mesmo no negócio rural. Você precisa entender o que gera valor, o que gera dinheiro, o que gera lucro na sua fazenda. Você precisa trabalhar no que importa de verdade na sua fazenda (simples, mas pouca gente faz).

Eu conheço um pecuarista, que mora na fazenda e vai quase todo dia para cidade, na "rua" como dizem em alguns lugares do Brasil. Todo dia ele tem que comprar alguma coisa, negociar alguma coisa, "ver" alguma coisa. Ou seja, uma grande parte do tempo dele é gasto fazendo o que eu chamo de ABV, ou Atividades de Baixo Valor.



Enquanto ele deveria estar dedicando a maior parte do tempo em atividades que geram valor e lucro de verdade para a fazenda, ele está comprando e transportando miudezas.

Por isso dei o nome de Síndrome do Pecuarista Transportador de Arruelas. É uma doença que afeta muita gente boa na pecuária. Muita gente trabalhadeira. Muita gente que não tem os resultados que gostaria e que poderia ter. Esse pecuarista trabalha muito. Se dedica muito. Acorda mais cedo do que eu. O esforço e quantidade de horas trabalhadas é enorme.

Qual é o erro? Ele não escolheu bem quais atividades vai realizar. Ele não sabe o que gera valor no negócio dele. E ele se "ocupa" com as arruelas do negócio... E com isso, tem resultado muito baixo. 
E o pior, ninguém fala sobre isso. Ninguém ensina estratégia de negócio para pecuarista. Eu acho que eu sou o único e o pioneiro em tratar desses temas.

E ainda tem gente que me olha torto... :-)

Mas quando eu expliquei essa metáfora do pecuarista transportador de arruelas, várias pessoas na sala fizeram o seguinte:

- abaixaram a cabeça.
- passaram a mão no cabelo.
- olharam para baixo.
- ficaram sem graça e até com vergonha.

Mas isso não tem nada de errado... Nunca te ensinaram isso... Em nenhum curso, evento ou treinamento.  Provavelmente, até hoje você não tinha feito essa reflexão... E como você é apaixonado pela pecuária, acaba ficando na atividade, mesmo com uma renda mais baixa do que gostaria e poderia. Mas isso pode ser diferente. É possível ter resultados, ter lucro, numa atividade que se é apaixonado. É preciso apenas dedicar energia nos pontos certos. Como diziam os antigos (eu adoro ditados caipiras): "Não acenda vela boa para defunto ruim..."


Minhas lições e recomendações para esse aluno, que compartilho com você:

1- Faça uma revisão (simples) da estratégia do seu negócio (o que gera renda, produção e lucro). E isso é diferente para cria, engorda, confinamento, venda de genética.

2- Reveja como você está gastando seu tempo. Coloque mais tempo em atividades que realmente geram valor, lucro. Provavelmente você está trabalhando muito, com uma pequena parcela de tempo dedicada ao que realmente importa. Por isso que é possível trabalhar menos, e ter mais resultado. Porque o valor da sua hora trabalhada depende do valor do trabalho que você faz. E para quem é dono do negócio, essa diferença é de mais de 100 vezes. Não é 100% não, é 100 vezes!!

3- Invista em aprender, entender e melhorar nas atividades que geram lucro de verdade. Se você é dono do negócio, ou o gestor principal, precisa ficar bom em: negociação, vendas, marketing, gestão de pessoas e aprender a lidar com gente "difícil". E nada disso é ensinado na escola. Mas com práticas de acerto e erro, e as vezes em cursos e consultores especializados que podem ajudar e muito com nessas situações.

4- Ande com gente que está focado em atuar no que importa de verdade para gerar lucro na pecuária e no agro, temos um número cada vez maior de produtores e profissionais focados em produzir mais e render mais. Mas cuidado com o custo. Muitos estão dispostos a trocar experiências e servirem como pontos de apoio e inspiração. É o que chamamos de Rede do Bem.

5- Faça uma reflexão de quanto você está trabalhando com intencionalidade. Quanto do seu tempo é dedicado de verdade ao que gera valor mesmo. Se você não sabe ainda o que gera valor de verdade na sua fazenda, fique tranquilo, isso é muito mais comum do que você imagina. E o melhor, é possível aprender e rápido.

Eu acredito que é possível.
Eu acredito na pecuária.
Eu acredito no agro.
Eu acredito nas pessoas do agronegócio.
Eu acredito que é possível ter um negócio com paixão, propósito e LUCRO.



October 3, 2017

BIOPESTICIDAS: Uma visão diversa

(A partir do workshop presencial em Shenyang Agricultural University - Safe Production of Grains)



Campo Experiemental em Shenyang
Ingredientes ativos de plantas e organismos naturais, como óleos essenciais e extratos vegetais, já são uma realidade na agricultura brasileira, mesmo representando uma mínima fatia do mercado de insumos e com preços mais elevados do que os sintéticos. É o manejo integrado e biológico de pragas, doenças e plantas daninhas.

À alguns dias, circularam diversos rumores sobre a legalidade desta pratica executada on-farm, ou seja, no caso de agricultores fazerem seus próprios biopesticidas. Sim, hoje é possível produzir todos esses insumos em casa e não depender totalmente de insumos da massa industrial, que tanto nos serviu. Não precisa procurar muito pra acharmos cursos on-line de como produzir sua fábrica de rações, utilizando todos recursos produzidos na fazenda. No entanto não é nenhum pouco fácil essa produção para os biopesticidas, mas também não é impossível, caso a intenção seja extrair o principio ativo de plantas ou organismos como fungos e bactérias e multiplica-los para utilizar nas áreas da fazenda. O conflito que ocorre é sobre a integridade destes produtos e se serão produzidos dentro dos padrões, mantendo a qualidade e eficiência no controle. Já existe uma enorme pressão* da própria indústria de biológicos contra a prática dos agricultores multiplicarem seus biopesticidas em casa. Mas os biológicos são mesmo seguros? Será que um dia poderemos ter uma lavoura totalmente isenta de moléculas sintéticas e produzir nossos próprios insumos? A resposta é não, por enquanto.
Aqui uma matéria sobre essa pressão*



NA PRÁTICA

Parte do grupo de discussão sobre biopesticidas com representantes
do Egito, Filipinas, Malásia, Paquistão, Índia,  Jordânia, Irã,  Sudão, 
Camarões e Bangladesh.

Na questão da segurança no manejo biológico, acredito que vai depender muito da política agrícola e da pressão que o setor industrial vem fazendo, e claro que para produzir esses insumos nas biofazendas deveriam haver controles de qualidade e até mesmo registros para a produção e inibição do comercio ilegal entre agricultores. Dessa forma, só poderá ser multiplicado para uso próprio. Mesma situação que o corre com sementes salvas, das quais é ilegal o comércio entre agricultores, contudo sabemos que essa prática de se salvar sementes é um dos fundamentos de diminuição da produtividade nas lavouras. Por mais que as sementes salvas aparentam ser "bonitas", elas não passaram por controle de qualidade rigoroso. Depois de muitos ajustes, a produção de sementes certificadas, por exemplo, passam por quase 10 testes de qualidade interno, e cuidados absolutos no processo de beneficiamento, antes de receberem a certificação, garantindo maiores produtividades.



PERDA DA EFICIÊNCIA

Com relação aos atuais fungicidas, herbicidas e inseticidas que conhecemos, existe preocupação com a maioria das culturas de grãos, pois estão aumentando os indices de perdas devido a resistência dos fungos, insetos e principalmente plantas daninhas por esses insumos sintéticos, sem falar no aumento de custo de produção pelo aumento de aplicações. Os insumos químicos estão perdendo o efeito ou tendo um residual bem mais baixo do que alguns anos atrás, constatação feito por diversas pesquisas e trabalhos no mundo todo. Aqui um artigo da FAO e  aqui uma pesquisa Americana.

Qual o custo de um controle de daninhas com todos os tipos de herbicidas utilizados desde o pré-plantio, plantio, pós-plantio e ainda levando em consideração depreciação do pulverizador e óleo diesel? Se compararmos com o custo de implantação de culturas de coberturas, rolo corrente e capina manual. Sendo que este último poderia ser feito com a inclusão social de várias pessoas. Ou até mesmo criar empresas com a nova lei da terceirização, que poderia oferecer um serviço de capina manual para os produtores rurais... Lógico que essa prática seria muito mais viável para áreas de tamanhos pequenos e médios, ou mesmo para diversificar o sistema produtivo de áreas maiores.


MEDICINA CHINESA, HOMEOPATIA

Alguns trabalhos e práticas no Brasil sobre hemeopatia com conclusões eficases quanto ao uso de produtos biológiocos ou homeopáticos. Aqui um trabalho da Unijui para produção de leite este outro daqui em ovinos. O problema é que continua aquela velha dúvida se a empresa detentora da marca de algum destes produtos biológicos testados nos trabalhos não foi a patrocinadora da pesquisa, gerando dúvidas quanto a idoneidade dos trabalhos. Por isso seria muito melhor os pesquisadores não utilizarem os nomes comerciais dos produtos em seus trabalhos, e sim somente o nome e concentração dos princípios ativos usados.


Tive ótimos exemplos práticos que vi em uma clínica, com o uso plantas medicinais e outros medicamentos naturais. E isso esta causando um angustia na indústria farmacêutica, que não consegue penetrar e nem aumentar suas vendas no mercado chinês. A medicina tradicional chinesa (MTC) é extremamente respeitada milenarmente. A maioria dos hospitais ou clinicas trabalham de forma bem distintas da medicina que estamos acostumados. Inclusive o próprio governo não apoia muito a medicina ocidental. Os governo provinciais estão incentivando com marketing e bolsas de estudo (workshops) para profissionais da área da saúde de países estrangeiros para participarem de programas com bolsas de estudos dentro dos Institutos Confuncius, que também funcionam como propagação da cultura e língua chinesa. Estranho que esses institutos recebem várias críticas e a maioria por pessoas de países desenvolvidos. São diversos destes institutos espalhados por toda a China. Tive a oportunidade de conhecer dois institutos desses. Achei um tanto místico demais ou meio que placebo. Aqui outra matéria no The Economist que fala sobre isso.


Plantas medicinais
Email para contato sobre bolsa em
 um dos institutos
Portanto, mesmo um tanto controverso, a verdade é que muitas pessoas utilizam essa medicina aqui e sendo ou não placebo, elas estão funcionando e deixando a indústria farmacêutica um tanto furiosa. E se hoje existem pessoas que só utilizam medicamentos naturais, o mesmo pode ser empregado para tratamento de doenças em animais com produtos homeopáticos. Os humanos conseguem ao menos explicar se ha algo de errado em sua nutrição ou saúde, ao contrário de outros seres. Com foco nessas práricas de uso do princípio ativo de organismos e plantas como controle biológico, se buscam dosagens precisas para esse tipo de insumo, ao contrário do termo homeopatia que as vezes por não se focar muito nas doses acaba caindo em descrença pela maioria das pessoas. A nova (re)evolução agrícola esta trazendo uma união desses dois conceitos.



PRINCÍPIOS ATIVOS NO LABORATÓRIO

Uma das plantas utilizadas foi de Ginkgo Biloba, extrato desta
planta serve de biofungicida para tratamento de semente.
Agora gostaria de compartilhar algo mais específico. A formulação de biopesticidas na prática.
Tivemos ótimas instruções e práticas de laboratório com o Professor Dr. Xiuwei, que tem publicado trabalhos sobre extração de princípios ativos de plantas para formulação de produtos biológicos. Uso de cascas, folhas, flores, caules, frutos... tudo é possível durante a extração. Como encontrar uma planta boa para extração e saber se ela funciona? Converse com os agricultores! Essa foi a resposta. Então se sabe quais plantas são menos atacadas por insetos dentro de uma lavoura.
Já existe aqui na China extratos de plantas que funcionam como herbicidas para o controle de algumas espécies de Amaranthus. Ah, também existe o controle de insetos com o uso de inimigos naturais, que são espalhados com ajuda de drones.


Plantas de soja utilizadas durante os testes com biopesticidas.

A maioria destes insumos com princípios ativos naturais são indicados para aplicação preventiva.
O efeito do inseticida biológico da Amorpha fruticosa, por exemplo, leva entre 24 a 30h para fazer efeito no controle de pulgões e lagartas, quando aplicado com um pouco de antecipação abaixo do nível de dano econômico. Esse "um pouco de antecipação" são informações que necessitam ser validadas/testadas e pesquisadas.

Diferentes extrações de princípios ativos de
plantas medicinal para uso agrícola.

Uma cadeira com somente uma perna cairá. Adicionando outra, ela fica um pouco mais estável e cai também. Colocando uma terceira perna, formará um tripé e uma reforçará as outras. Esse é um dos princípios da sustentabilidade. as pernas seriam a economia, o meio ambiente e a sociedade.

Sempre ouvia dizer que temos que olhar cada vez mais de perto a natureza, ela é a resposta pra muitas coisas da vida. E além de ser a resposta, esta passando a ser a solução. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma e se copia para se transformar novamente...
Biopesticida comercial
Trichoderma viride + 
Bacillus subtillis
Então, durante as práticas de laboratório, executamos atividades com extrações de plantas e bactérias. Os procedimentos são simples, o que achei complexo era a interpretação das leituras das análises nos equipamentos que medem os espectros das concentrações dos ativos.

Moléculas naturais como Rotenona, utilizadas a mais de 150 anos por algumas tribos indígenas no Brasil, da árvore timbó para captura de peixes, estão sendo estudadas para verificar malefícios a saúde humana.  Na China já existe biopesticida a base de rotenona para controle de insetos, de qual o princípio ativo é extraído da planta Lonchocarpus.


Diferença entre as formulações
 naturaise a sintética,de coloração 
branca leitosa quando misturada
 com água.
Porém, várias pesquisas como esta aqui, estão mostrando que rotenona e molécula do Paraquat "podem" causar mal de Parkinson. E hoje, é quase impossível controlar plantas daninhas sem a utilização de paraquate, é o único herbicida sintético que funciona e que tem aceitável custo benefício para agricultores. Esta circulando notícias, e de acordo com esta consulta pública sabemos que o principal risco é de quem manipula o produto, por isso é importante o uso de proteção ao manusear,  e que se respeitado a carência de uso e consumo do grão onde foi aplicado, o ingrediente ativo é degradado. Caso esse produto seja realmente banido, coloca em risco um dos pilares econômicos da sustentabilidade, pois o custo da produção irá aumentar, já que a maioria dos outros herbicidas existentes são muito mais caros e necessitam de dosagens mais altas para o controle de daninhas. Mas uma coisa é certa, nem os produtos naturais, como a rotenona, estariam isentos de malefícios a saúde.

Diversas plantas são utilizadas para testes e
viabilidade de ingredientes ativos biológicos
Hoje já existem pesquisas e resultados como esse dissertação aqui, que testou óleo de nim/neem que contem o ativo Azadirachtin com resultados no controle de pragas como a lagarta da soja. O óleo de neem já é usado a muito tempo, de forma empírica, para o controle de diversas pragas na agricultura orgânica, e hoje se estudam métodos de utilizar esse biopesticida para controle de pragas em larga escala e em doses corretas. Aqui na China, existem estudos de que o óleo de neem, pode controlar mais de 250 espécies de insetos. A árvore de nim (Azadirachta indica) se adapta bem ao clima do Brasil, mas já ouvi relatos de que ela pode causar mortalidade em abelhas, ou que o óleo esta causando...

A aula prática nos laboratórios eram executadas com diferentes pesquisadores, nos ensinando algumas técnicas (materiais e métodos) para se trabalhar com controle biológico. Usamos diferentes reagentes e solventes para trabalhar com a extração do mesmo princípio ativo. Era assim que comprovávamos que solventes diferentes atuam de formas distintas na extração destes ativos e era o que tornava a formulação diferente (líquida, wg, textura, coloração) com a mesma concentração do princípio ativo. A intenção era descobrir reagentes que tornem o ativo muito mais diluído na água para tornar menos agressivo ao meio ambiente. Para medir essa "agressividade" utilizamos diversos métodos de análises, tanto em plantas de soja, peixes e mamíferos, mas antes disso a formulação era medida em um equipamento "Varian". Esse equipamento mede o tamanho da onda do espectro e a interferência que ele pode ter durante a fotossíntese, quando em contato com a folha da planta.



Aquários onde são utilizados
peixes para medir
a concentração
 dos principios ativos em
caso de contaminação
 de lagos e rios.

Animais utilizados para 
análises de resíduos
de plantas ingeridas 
com biopesticidas.



Extração à vácuo















Produção em escala maior,
equipamento parecido com 
os atuais on-farms utilizados 
no Brasil

Espectrograma que indica a concentração
 do ativo e do solvente ou dos dois juntos, 
relacionados com a fotossíntese em caso
de utilização na parte foliar.
O tamanho da onda do espectro medido com laser, deve ter até 400 nanometros para não ocorrer fito na planta. O objetivo era encontrar uma formulação que tivesse um tamanho de onda alto, com maior absorvância, e uma onda gorda, sem ultrapassar os 400nm. É por isso que existem algums agroquímicos, o mais conhecido é um fungicida, que já torrou várias lavouras.





NOVOS PARADIGMAS, VISITANDO A FAZENDA

Soja orgânica para tofu e in-natura
Ouvi falar muito em produção orgânica na China. É estranho pensar que por aqui já existe essa tendência. Entretando o acesso a este tipo de alimento é restrito pelo alto custo de produção, mesmo assim existe um grande mercado pois pessoas com maior condições de compra já preferem investir mais nesse tipo de alimento. Se até num país com 1,4 bilhões de pessoas o próprio governo esta incentivando a produção orgânica é porque realmente têm fundamento. Visitamos uma fazenda em Guan Shan na cidade de Fushun, chamada de "Eco-Agricultural Company". É uma propriedade agrícola especializada na produção em média escala de grãos orgânicos e "alimento verde" de soja, milho e principalmente arroz. O que mais me chamou a atenção foi um tipo de repelente para insetos extraído do caule e casca de uma árvore. Esse resíduo vem do beneficiamento da madeira. Eles utilizam misturado junto ao adubo, espalhado à lanço, que serve para repelir insetos. Ou seja, é um fertilizante que também serve como inseticida repelente. Porém, devemos desmitificar que agricultura orgânica é só para hortaliças ou para agricultura familiar, e tornar viável essa produção em média escala como uma nova forma de agregar valor á commodity soja, deixando de lado a ideologia política dos produtos orgânicos. Pois acaba sendo uma opção a mais para o consumidor final e também forma de diversificar a produção. Dessa forma até podemos pensar em uma nova cadeia que esta se criando. Produção de aves e suínos que se alimentam de soja orgânica e entrarem no mercado como carne orgânica... desde que utilizem medicamentos homeopáticos para controle veterinário. Ou então poderiam ser consideradas alimento verdes (green food), uma nova categoria utilizado aqui na china que fica entre os alimentos convencionais e orgânicos.

Todo o sistema de produção era baseado em reaproveitamento de recursos. E os insumos utilizados eram todos biológicos. Essa propriedade fazia parte de um programa junto com a universidade agrícola de Shenyang, onde eram colocados em prática, junto com os proprietários, sistemas de produção, manejos e dias de campo para transferência de informação para difusão destas práticas.

Serraria onde coletam os resíduos de madeiras para 
produção de adubo com repelente natural para insetos.
O uso de adubação de compostos orgânicos é considerada antiga por aqui, com uso de esterco animal e de feses humanas para produção de batatas.  Adubação sistêmica e homeopatia, como controle biológico para animais, podem ser consideradas fora da realidade para alguns sistemas de produção e até mesmo, meio impossível. 

Gado criado a pasto, mesmo sendo considerado "carne verde" ainda não pode ser considerado orgânica pelos medicamentos químicos que são utilizados para controle de pragas e doenças.

Como diria o Sheik Zayed, um dos líderes visionários dos Emirados Árabes: o impossível é o que guia as grandes ambições. Durante a idealização do projeto de construir cidades e ilhas cheia de árvores no meio do deserto, diversos consultores especialistas diziam que seria impossível o plantio de qualquer tipo de planta pois o solo era totalmente arenoso, seco, salino e com clima totalmente adverso. Esses foram os obstáculos que criaram o caminho para soluções criativas de Zayed e que guiam o atual "presidente" Bin Rashid. 


POTENCIAL

Se pensarmos na diversidade de árvores e plantas que temos em nosso país, a idéia em pesquisas e trabalhos com essas plantas para extração de novos ativos como alternativas para substituir produtos sintéticos é algo inimaginável. Por esse motivo que devemos lutar para a nacionalização das nossas florestas. A amazônia é nossa! E a única forma de conseguir novas descobertas indo atrás da raíz. Quem são os maiores conhecedores de medicamentos naturais? Os bugres, índios e pessoas antigas, como aquela vó que usa cobrina para picadas de mosquitos. São com essas pessoas que se deve conversar para extrair informações sobre plantas medicinais. O próprio SEBRAE tem um curso só sobre plantas medicinais. Acho que o caminho é por aí, unir essas informações com quem queira iniciar pesquisas com produtos biológicos em universidades. Muito melhor ainda se alguma instituição públicas tivesse fundos para fazer pesquisas assim, sem intenção de lucrar abusivamente às custas dos agricultores, mas sim fazer com que tenham maiores produtividades com menores custos, gerando maior produção de grãos para a economia.


Esse fungo nasce na cabeça das lagartas e só é encontrado
no sul da China e nas montanhas do Tibet.

Os Estados Unidos, hoje é o país que mais concentra patentes e registros de produtos biológicos, com mais de 3.000 registros, e muitos dos ativos destes produtos já eram utilizados ha séculos atrás na agricultura da China, porém os chineses não haviam se dado conta em registrar. Muitas, mas muitas plantas medicinais são usadas para tratamento de doenças humanas, sem nenhuma comprovação ciêntifica. Por isso que faltam pesquisas ou comprovações destas práticas tanto em humanos quanto em plantas. O maior desafio não é a extração dos ativos, mas sim as formulações, dosagens, validações e comprovações cientificas para então fazer o registro e patente. Se os chineses tivesssem registrado o guarda-chuvas, e várias outras descobertas, com certeza teriam aceito o uso de plantas transgênicas em sua agricultura. Mas perae, o que tem uma coisa  haver com a outra????

Porque a China importa grãos transgênicos de milho e soja, não permitindo o cultivo destas plantas em seu país???

- O motivo, não é pela dúvida com relação á biotecnologia, mas sim por entraves e interesses políticos. Assunto que discutimos muito durante esses dias do programa juntoi com o grupo de vários países. Mais além vou passar a limpo minhas anotações a respeito destas discuções



UNIVERSIDADES BRASILEIRAS, POR FAVOR FAÇAM  MAIS PESQUISAS

No Brasil, têm um bocado de empresas de produtos biológicos já atuando no mercado, com preços ainda bem elevados se comparados com o valor vendido ao produtor chinês e americano. Necessitamos de muitas pesquisas a respeito. Os processos parem simples na prática de laboratório. Mas as principais questões fundamentais para concluir o processo de criação de um produto é justamente na podologia exata. Outro fator é o controle que o estado faz no mercado agrícola. Mais incentivos fiscais para que esses novos insumos venham para facilitar e tornar acessível essas ferramentas e opções para os produtores controlarem as doenças, pragas e plantas indesejadas em suas lavouras.


Organograma de bipesticidas,
adaptado de Xiuwei Li

Tenho a aula em ppt completa sobre Processos tecnologicos e práticos para formulação de biopesticidas e artigos do professor Xiuwei Li, em inglês, se alguém quiser, me manda um email marcelochiappetta@gmail.com 
Nos foi solicitado para não fazer o upload na rede deste ppt. Mas posso enviar pessoalmente. Com certeza irá servir como fonte de boas idéias para quem estiver pesquisando sobre esse assunto.



PARA ONDE VAMOS?

Os biopesticidas são apenas uma das fragmentações da nova economia que esta surgindo no mundo, não só na agricultura. Vivemos num ambiente com países cada vez mais protecionistas e menos voltados para integração e cooperação ganha-ganha, numa uma onda de não líderes que uma hora ou outra irá causar algum impacto maior no mundo em que vivemos.  Por isso que estão chamando os grupos de países desenvolvidos que antes eram G-8 de G-Zero. Vivemos uma crise com carência de líderes, não só de nível nacional, mas global.


IDÉIAS

Para as biofazendas certificadas, umas das idéias seriam parcerias entre produtores rurais empreendedores e firmas especializadas que disponham de recursos para investir em equipamentos para produção de biopesticidas. Desta forma, fariam uma simbiose com o produtor rural para instalar uma unidade de produção em comodato, dentro da área deste produtor. Assim o local de produção seria em zona rural, podendo favorecer com a economia local. Em contra partida, a empresa ofereceria os produtos como forma de pagamento para este produtor, dependendo do tamanho da área. Claro que existem vários riscos para o negócio e esse processo de instalação e legalização do registro, exigiria um planejamento estratégico muito mais detalhado.

MAIS IDÉIAS

Acredito que não esta longe de termos uma lavoura totalmente com produtos biológicos ou homeopáticos, vários exemplos nessa safra de 2017 em lavouras de trigos no Rio Grande do Sul. Já existem casos de lavouras de soja totalmente isenta de insumos sintéticos, o desafio é produzir esses grãos em larga escala, pois o maior detalhe esta no controle de plantas daninhas. Ai que entra a questão de agregar valor ao nosso produto final. Várias idéias surgiram aqui sobre o efeito da produção de grãos dentro do sistema biológico que podem mudar completamente a cadeia de produção e melhorar muito a qualidade de vida no campo e das pessoas nas cidades.

Moderno é otimizar recursos, ou seja, produzir mais e melhor, com menores custos, estando dentro do pilar social e ambiental.