December 21, 2017

PRODUÇÃO DE SOJA NA CHINA 2017


Cultivares com pouco espaçamento entre nós.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Os Chineses, pelo menos os pesquisadores e professores de doutorado na universidade onde fiquei por quase um mês, são grandes defensores de biotecnologia na China. Durante todas as reuniões que tivemos, afirmaram que os benefícios dos transgênicos são maiores que os riscos. Assim como os riscos de radiação que celulares e redes wifi causam. Ou de que preferem a poluição do carvão como fonte de energia do que o uso de reatores termonucleares.

Como estávamos num grupo bem diversificado de profissionais, sempre ocorriam discussões muito interessantes sobre diversos paradigmas dentro da agricultura e o assunto sobre organismos genéticamente modificados são ainda um dos que causavam mais polêmicas. Porém, os chineses não plantam soja transgenica, é proibida para consumo humano.


COMO OS CHINESES CONSEGUIRAM PATENTEAR UMA SOJA BT?

Não é permitido o plantio por um motivo simples. A China teve/tem algumas desavenças com a multinacional americana que patenteou essa biotecnologia, desde o lançamento da soja resistente a glifosato e principalmente pelo alto valor dos roylaties que queriam cobrar pelo uso dessa biotecnologia. Outro motivo foi que os chineses solicitaram que se a multinacional quisesse ingressar no mercado de sementes no país asiático, deveria ocorrer a transferência de tecnologia, ou seja, todas as técnicas e descobertas deveriam ser ensinadas para pesquisadores chineses. 

Resistente a percevejo
Esse acordo não ocorreu. A China ficou mais de 10 anos sem fazer pesquisas a fundo no desenvolvimento de novas cultivares de soja. E agora voltaram com tudo, soja resistente a lagartas, percevejos, metais pesados, seca e cultivares com arquiteturas bem interessantes. Tudo isso é irrelevante para os agricultores chineses, que não plantam sojas geneticamente modificadas. Essas sojas modificadas estão sendo pesquisadas para serem vendidas nas novas lavouras do continente armericano e é claro também na américa latina. Não demorou muito para os chineses descobrirem os processos de patente de biotecnologias já existentes e conseguirem registrar com novas patentes e principalmente novas variações que permitiram criar um novo registro sobre esse tipo de soja transgênica, patente diferente do da antiga monsanto, mas com exatamente os mesmos princípios. O que fez com que essa nova patente chinesa se enquadrasse como uma nova biotecnologia foi que perante a lei internacional, o registro estava limitado em 30% de semelhança na cadeia de DNA.  Da mesma forma para soja Intacta, onde os pesquisadores chineses conseguiram utilizar a mesma fórmula para registrar soja Bt, resistente a lagartas e outro evento que torna a soja também resistente a percevejos, mas esse com a biotecnologia CRISPR. Todos esses procedimentos e processos de pesquisas das biotecnologias nos foi mostrado durante o workshop na universidade.

Os pesquisadores chineses simplesmente inverteram algumas sequências nucleotídicas e alegaram a diferença, ganhando a patente. Ou seja, conseguiram criar os mesmos eventos biotecnológicos que a monsanto, porém com diferente métodos de sequenciamento. Sem precisar pagar um pila de roayalties. Portanto, o motivo pelo qual a China têm certa aversão dos transgênicos para platar em seu mercado interno é por motivos políticos e comerciais.

As cultivares de soja trasngênicas não estão sendo plantada na China, são todas para exportação em forma de germoplasma ou evento biotecnológicos. O objetivo dos chineses é comercializar essas biotecnologias com outros países inclusive o Brasil. Agora podemos pensar um pouco sobre essas várias aquisições de empresas multinacionais feita por empresas chinesas. Estão investindo milhões de dólares em pesquisas com melhoramento e biotecnologias em plantas de soja, porém o uso dessas plantas é extremamente restrito aos centros de pesquisas nas universidades e em campos experimentais de institutos oficiais do governo.
Lavoura com diferença na maturação. 

Por qual motivo os agricultores não plantam soja trasngênica na China?

O governo centralizador iniciou uma campanha junto aos agricultores chineses que uma empresa americana havia criado sementes de soja que iria arruinar e esterelizar os solos, causando mortes se fossem plantadas e que essa mesma empresa tinha como objetivo colocar os agricultores contra o seu próprio governo. Esse foi o argumento e é a explicação de como que os produtores chineses não plantam a soja transgênica que chegam em navios importados do Brasil, Argentina e Estados Unidos, mesmo chegando misturadas. Tudo isso ouvimos durante as conversas com os professores da universidade agrícola.

Já relatei sobre isso aqui onde pude analisar durante visitas em campos de demonstração e laboratórios de que a soja com tecnologia de resistência a lagartas da china é tão eficiente quanto a soja intacta ipro da monsanto. Acho que a briga futura das multinacionais serão entre Bayer/Monsanto e Syngenta, ou seja, China contra Estados Unidos e Alemanha, ou ainda, países desenvolvidos contra país em desenvolvimento.


A COR DO HILO

A soja com cor de hilo branco é a mais aceita e consumida no mercado interno deles. O tofu deve ser branco ou bege, e só consegue ter essa característica se utilizado grãos com cor de hilo braco. Portanto, a soja importada vem toda misturada, tornando quase impossível do agricultor chinês plantar. Além de ser transgênica e proíbido o plantio.

Na cabeça dos agricultores chineses, cor de hilo preto ou marrom é característica de soja ruim… Mas na verdade isso é uma questão cultural dos agricultores e não significa que a soja seja ruim. Mas é um fator de decisão deles, ao escolherem as cultivares de soja.

Os motivos pelos quais os agricultores Chineses preferem plantar milho ao invés de soja, primeiro é pelo preço que chega a ser até 2,5 vezes que grão de soja, e o segundo motivo é de que milho produz muito mais por hectare. . Neste mês de setembro, o preço pago pelo kg de soja produzido pelo agricultor era em torno de R$0,51/kg. Além do jogo de subsídio que o governo impõe para controlar as reservas de grãos.

Por alguns anos os chineses deixaram de investir em programas de melhoramento pela descoberta da Monsanto, referente ao gene resistente ao glifosato. De certa forma, ficaram descontentes com o registro da patente, tendo como a soja uma planta originária da China. E foi ai que a briga começou e segue até hoje. Muitos pesquisadores aindam buscam informações genéticas em plantas de soja crioulas para estudos sobre o sequenciamento de DNA.

Por mais paternalista e controlador que seja o estado chinês, ele deve se adequar a diversas leis internacionais. Uma dessas leis referem-se a condutas comerciais. Desde que a China passou a fazer parte da Organização Mundial do Comercio  não pôde controlar os preços dos grãos, ficando a mercê das principais trades do mercado internacional e que também atuam dentro do país asiático. É a OMC que tenta policiar esse mercado de grãos, evitando práticas anti-comércio. Dessa forma todo o mercado de grãos internacional tem como principal condutor a oferta e demanda. Claro que muito disso é regulado pelo consumo do mercado chinês, mas eu já escrevi aqui, que a reserva de grãos deles é de até 25%, ou seja, essa é a gordura da qual podem barganhar ou queimar durante as negociações de compra das commodities agrícolas.



EXPERIÊNCIAS TRANSFERIDAS

Um assunto que observei para o grupo foi a experiência negativa que tivemos sobre o início da soja resistente ao herbicida glifosato no Brasil, quando ainda não eram legalizadas, e que depois de algumas safras praticamente todos produtores já utilizavam. Utilizaram por forças maiores da necessidade da revolução agrícola que ocorria no nosso país hermano.

Digamos que foi como aconteceu com o Uber...! Forçando o governo, atrasado, a tomar uma atitude para liberação. Vocês lembram as notícias dos protestos dos taxistas? Então, durante a liberação dos transgênicos foi parecido, porém muito mais intenso, pois cutucava ideologias e negociações de royalties. Tanto é que crucificaram vários da CNTBio e principalmente os produtores rurais, que eram como se fossem os usuários de Uber quando lançou o aplicativo e ainda não era legalizado, mas era muito usado.

Dessa forma, o governo não teve nem tempo de dar explicações a população sobre os benefícios ambientais que os transgênicos trariam para o meio ambiente, em médio prazo. Esse atraso na legalização causou decadência e bagunça no mercado brasileiro de sementes durante 10 anos e com sequelas que se perpetuam até hoje.

Comentei da parte boa também, que se não fossem essas biotecnologias com certeza a produtividade não teria aumentado e estaríamos ainda usando muito mais herbicidas ou inseticidas nas lavouras. E ainda, não teríamos sobra de grãos dos quais podemos exportar para alimentar os suínos, aves, peixes e fazer o óleo vegetal dos chineses.

Integração Lavoura Pecuária (ILP) também foi um assunto que tive a oportunidade de apresentar para o grupo de pesquisadores do programa e também para mestrandos e graduandos da universidade agrícola. Como ex-aluno da faculdade de agronomia da UFRGS, tive o Professor Paulo Carvalho como grande influência e mentor deste assunto.

Poder ter levado para China e difundido os princípios da ILP, como ferramenta aliada à segurança na produção de grãos, foi como poder ter retribuído para o professor todos os ensinamentos e oportunidades que ele me ofereceu durante a minha época de estudante de agronomia. E hoje buscamos aplicar esses conceitos de integração na sociedade agrícola em que atuo.




SOJA HÍBRIDA: uma breve descrição.

Insetos da família Megachile são responsáveis, junto com outras abelhas, pelo processo de produção de soja híbrida. É responsável pelos primeiros trabalhos de produção de soja híbrida nos Estados Unidos, Megachile rotundata ou Megachile. Esse inseto , que também é um tipo de abelha, corta e come a pétala das flores, esterilizando a planta e impedindo que ela se auto fecunde. Dessa forma, podendo ser polinizada por outra cultivar com a floração sincronizada. O problema é que ainda não descobriram como tornar essas plantas machos-estéreis mais atrativas para as abelhas polinizarem.

Para não perder ou que essas abelhas se dispersem, os pesquisadores descobriram que plantando alfafa próximo da área de produção, as abelhas são atraídas. Nesse momento devem ser capturadas.

A descoberta já faz alguns anos, porém o método para polinização cruzada em soja é o maior desafio.

A China já têm alguns trabalhos com produção de soja híbrida, porém essa abelha só é encontrada nas Americas, portanto todos os trabalhos são com abelhas importadas dos Estados Unidos. Também estão pesquisando outros métodos de esterilizar plantas, evitando a autofecundação e obter polinização cruzada.

Se esses métodos de produção de soja híbrida ocorrer, teremos produtividades próximas ao do milho e do arroz, que ultrapassam 10.000kg/ha. Entraríamos em um novo patamar na produção de soja. Acho que isso não esta muito longe de acontecer e a resposta está na observação da própria natureza.

Pra quem quiser ir mais a fundo no assunto, Aqui esta o trabalho a partir de 2006 do registro desta técnica de polinização. E aqui o número de outras patentes referente a produção de soja híbrida, todas na America do Norte.

A China pretende se tornar o país líder em biotecnologias nos próximos 20 anos.









Óleo de soja com grão importado: +- R$8,00 por litro


Estufas de tomates e cidade ao fundo

Seleção de espigas para milho varietal.






Campo experimental


Leite de soja, rico em vitaminas.


SORGO

Uma breve descrição sobre o cultivo de sorgo na China. O Sorgo está sendo uma boa fonte de renda para os agricultores que preferem uma planta mais rústica que o milho ou para utilizar em áreas mais úmidas. A China já utilizou muito mais o sorgo e seus subprodutos do que atualmente, mas vem fomentando esta cultura como forma de diversificar a produção nas propriedades. O plantio é recomendado de forma que as plantas fiquem bem adensadas, um dos motivos é para evitar que pássaros consigam comer, pois dizem que é um grande problema. Na verdade, o pássaro come o sorgo, e o chinês come um pássaro farto. Sim, o que eu vi de estilingues, arminhas de pressão como espingardas e revólveres foi incrível. Eles matam muitos pássaros, mas não matam a toa, sempre com algum propósito, por mais que essa prática seja de certa forma proibida por aqui. Mas então, como que o governo consegue incentivar os produtores a plantarem sorgo? Muitas vezes é por imposição, quando na existência de "cooperativas" que vem assumindo o controle das áreas agrícolas. O uso para alimentação humana do sorgo corresponde a 10% da produção, 8% para produção de bebida alcóolica que é um tipo de cachaça chinesa variando de 21 até 47 de teor alcóolico e quase 80% dos grãos vai para a alimentação animal. Grandes projetos estão sendo desenvolvidos para utilizar o sorgo na produção de etanol como combustível. A Argentina é um dos grandes exportadores de sorgo para a China, mais de 10 milhões de toneladas vem dos hermanos. O plantio de sorgo era muito popular aqui, mas caiu mais de 10x a produção total, principalmente pela competição com o plantio de milho, que hoje é o segundo grão mais plantado na china depois do arroz. A cadeia mercadológica do sorgo é muito instavel e com falta de clareza na oferta e demanda.


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