May 7, 2020

Construindo um solo como um organismo vivo


Entender a saúde do solo significa avaliar e manejar para que ele funcione como um sistema favorável para as plantas e os microrganismos, tanto para agricultura como para pecuária. Ao monitorarmos as mudanças na saúde do solo, podemos determinar se um conjunto de práticas é sustentável de acordo com sua atividade biológica e, principalmente, com o resultado final de uma boa colheita.

Somente seres "vivos" podem ter saúde; portanto, ver o solo como um ecossistema vivo reflete uma mudança fundamental na maneira como cuidamos dele. Afinal, ele não é um meio de cultivo inerte, pois é composto de bilhões de bactérias, fungos e outros micróbios que são a base de um elegante sistema simbiótico de rede alimentícia do solo



O solo é um ambiente que deve ser gerenciado para fornecer abrigo e alimento para esses microrganismos que irão solubilizar, disponibilizar e fornecer os nutrientes e metabólitos para o crescimento das plantas. Em tempos modernos, conhecer o solo, as plantas e os microrganismos e saber do que eles precisam é o caminho para uma colheita bem-sucedida, fazendo o solo e os organismos trabalharem a nosso favor. Os microrganismos são os cozinheiros da fábrica, e monitorar a saúde do solo é tê-los como biomarcadores. Quanto mais cozinheiros, mais comida, mas esses cozinheiros também precisam de alimentos.

Muitas pessoas acreditam que os micróbios só precisam de açúcar. Bem, eles precisam de uma fonte de carbono, que seria o exsudato das plantas. Mas, na verdade, também necessitam de ferro, manganês, boro e cálcio, e de todos esses outros elementos minerais também necessários para as plantas e para nós, seres humanos. É dessa forma que se integra a bioquímica nos manejos como diferentes fontes e pontos de vista sobre nutrição.

Existem algumas ferramentas para auxiliar nesses manejos, e uma delas é o extrato de composto, aumentando a atividade biológica dos solos, e uma delas é o extrato de composto, um tipo de biofertilizante que contém diferentes microrganismos ativados em meio líquido com oxigenação e balanço nutricional apropriados para balancear a quantidade de fungos e bactérias desejadas. As ovelhas comem o pasto, que veio do solo; o pasto passa pelo trato intestinal das ovelhas, onde microrganismos degradam essa pastagem em carboidratos e nutrientes para o animal. Essa é a integração lavoura-pecuária. Mas podemos incrementar esse processo. No nosso caso, o esterco desses ovinos é coletado do aprisco, onde os animais ficam em sistema de semiconfinamento, e preparado em forma de substrato. Esse substrato, depois de processado e compostado, fica pronto entre 30 e 45 dias, para então ser inoculado com as minhocas, permanecendo por mais uns 30 dias, dependendo da temperatura ambiente. Ou seja, esse resíduo de carbono das plantas passará por dois tratos intestinais, das ovelhas e das minhocas, para então ser ativado em meio líquido como extrato de composto ou húmus líquido ativo e pulverizado na lavoura ou pastagem. Doses de 150 a 300 L/ha podem ser utilizadas durante os ciclos da cultura, mas sempre mensurando a qualidade do extrato e da produtividade em médio prazo. Aqui você encontra um manual em português de infusão do chá de compostagem.

Acreditamos que depende de seres vivos todo o mecanismo de construção de um solo vivo. A engrenagem é a mesma, mas o entendimento depende de engenharia reversa. Alguns adubos não solúveis em água, quando utilizados em solos com alta atividade biológica, permanecem disponíveis por mais tempo, apesar de insolúveis. São manejos para reter por mais tempo os nutrientes e fazer com que não lixiviem do solo e que fiquem "retidos" mas disponíveis para a absorção pelas raízes das plantas, e não somente aumentar a caixa de nutrientes para as plantas, mas sim torná-la mais resistente com produção estável.

Consórcio de plantas de cobertura, nutrientes minerais e adubos menos solúveis, pulverização de probióticos e organismos são algumas das principais ferramentas para incrementarmos a resiliência dos solos e aumentarmos a imunidade das principais culturas desejáveis. 



A atividade rural é uma escola com sequência de valores, em que podemos construir inteligência coletiva. Aprender, aprender e aplicar, aprimorando e pensando na complexidade. Nosso principal desafio é gastar menos, produzir cada vez mais e conservar. No agroeconegócio, produtividade é vaidade, lucro é sanidade, e rentabilidade é a rainha.


Fontes:

The Biological Farming - Garry Zimmer, 2017

Humusphere - Herwing Pommeresche, 2019

April 27, 2020

Cobertura com mix de plantas, consórcio, blend ou coquetel de plantas:





As respostas com diversidade de plantas consorciadas favorece muito a melhora da saúde do solo, pois macro e microagregados são formados, funcionando como uma esponja. É onde se encontram os microorganismos, nestes agregados, nas raízes,  na argila, no silte, na areia, na matéria orgânica e no húmus. Nesta "amarração" também precisamos de oxigênio no solo, gerando o agregado estável, favorecendo a retenção de água no solo. Diferentes plantas e combinações de espécies de cobertura estimulam a microbiota do solo pela combinação dos exudatos emitidos pelas raízes dessas plantas.


Em termos práticos, se a natureza climática ocorrer dentro do esperado, a meta deste manejo de cobertura é também evitar aplicação de herbicida antes do plantio de verão, rolando ou deitando a cobertura para formar um colchão de palhada. Esse método é muito bom pois faz com que a planta tenha sua seiva bloqueda, preservando por mais tempo os exudatos
das raízes e mantande as raízes por mais tempo no solo.

São as bactérias e fungos benéficos que fazem a fixação e solubilização de nutrientes, ativação da biologia do solo, fixação de carbono, aumento de micorrizas, descompactação, reequilibrio, aumento de matéria organica e húmus... São esses alguns dos benefícios destes consórcios.

Tudo isso para preparar o solo antes do plantio das culturas de verão. 

Existem empresas que comercializam essa mistura pronta, ou podemos produzir na fazenda o próprio consório com ótima qualidade. Um dos outros desafios é conseguir colher a mistura e ainda poder usa-lá para semear no outro ano com sementes viáveis ou poder fornecer esse balanço nutritivo de grãos para alimentação, moendo num triturador para fazer farinha de diferentes espessuras, tanto para consumo humano como para animal. Ja fiz um relato sobre um produtor rural na frança que colhe seus mix de coberturas para alimentação de seu rebanho leiteiro neste link aqui.

Tem um manual com algumas espécies e as quantidades de cada uma para se fazer uma mistura como a que fizemos nas fotos ao lado, lembrando que essas quantidades devem variar de acordo com o que se deseja para o solo de cada região e principalmente o clima.



















Fontes:

Fotos tiradas na safra de 2019/2019

Plantas de cobertura e física do solo - Onã da Silva Freddi (UFMT) - 8º Dia de Campo sobre Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, realizado pela Embrapa Agrossilvipastoril e Senar-MT nos dias 19 e 20 de abril de 2018, em Sinop (MT).

Plantas de Cobertura - Calegari responde: Qual a melhor planta para cobertura do solo, 24 de mai. de 2019

March 29, 2020

Densidade Nutricional da Soja Biológica


Estamos vivendo em um novo modelo de agricultura, um modelo onde se busca valorizar o solo como um ser vivo e o protagonista para melhoria da qualidade dos alimentos. 

Aqui na fazenda estamos vivenciando a era da agricultura de processos, onde buscamos reutilizar materiais e resíduos orgânicos de volta para o solo, alimentando ele. Alguns desses resíduos orgânicos funcionam como bioativadores do bioma do solo. Nosso objetivo é transformar os grãos de soja em medicamentos, em alimentos com alta densidade nutricional. Esse é o foco do trabalho com agricultura biológica. Além de utilizar variedade de soja livre de transgênicos, o fundamento principal é tornar as plantas com alta imunidade, onde elas criem resistência natural contra pragas e doenças, necessitando de mínimo manejo químico. Para isso necessitamos trabalhar com a saúde do solo utilizando remineralizadores, adubos menos solúveis, manejo biológico com probióticos, fermentados para o solo e plantas de cobertura. Isso tornará os grãos produzidos com alta qualidade e densidade nutricional. 

Nesse ponto podemos concluir que tudo que se coloca no solo de minerais e microorganismos que também  estimulam a planta a produzir algumas vitaminas e aminoácidos onde transforma e carrega em seus grãos esses elementos.

Nosso objetivo é transformar as plantas e os grãos em seres capazes de armazenar essas qualidades nutricionais e fornecer um alimento com diferencial em qualidade. Ainda acreditamos que podemos transmitir as melhores das intenções durante o processo de formação dessas plantas com técnicas de ionização e bioquântica.








March 12, 2020

O SOLO É UM ESTOMAGO


Existe uma boa analogia de que o solo é essencialmente o estômago da planta. É nele que a planta recebe seus nutrientes. Da mesma forma que um rúmen, o solo requer insumos como minerais, água e matéria orgânica na forma de resíduos, adubo ou compostos. E semelhante ao rúmen, o solo não pode fornecer nutrientes para o crescimento das plantas de forma muito eficiente, sem a ajuda de microorganismos. 

Em um sistema equilibrado e produtivo, para que os nutrientes sejam convertidos na forma que as raízes das plantas possam absorver, é necessário a presença de bactérias, fungos e outras formas de vida benéfica no solo. Uma exceção a isso é o atual sistema de agricultura em que os insumos solúveis são aplicados em uma forma prontamente disponível para as plantas, as vezes muito salinos ou esterelizantes para biota. 

No entanto, se você adicionar muitos nutrientes solúveis, é semelhante a alimentar uma vaca com grãos em excesso. Isso perturba o equilíbrio, ficando ambos plantas e solo desequilibrados, estressados e favorecendo o ataque de pragas e doenças. O solo precisa ser alimentado com um equilíbrio de minerais e matéria orgânica suficiente para manter ativa a vida do solo constantemente (Edaphon) e nutrientes disponíveis para o cultivo de plantas para que os microorganismos fiquem mais próximos das raízes. Por isso o tripé de plantas de cobertura diversificadas, aplicação de microorganismos solubilizadores e adubos menos salinos e mais minerais que se integrem com esse sistema.






Fonte:

The Biological Farming - Garry Zimmer, 2017

Humusphere - Herwing Pommeresche, 2019


March 11, 2020

Aceitando a independência do setor primário




Nós produtores e, principalmente, nossos representantes, devemos ficar atentos. Existe um enorme potencial mercadológico dentro desse novo segmento que surge na era biológica, que podemos denominar de AGROECONEGOCIO. Já vimos uma cena nada favorável das Federações Agrícolas que deveriam nos representar, mas aceitam valores abusivos de royalties cobrados pelo uso de novas biotecnologias. Acreditamos que toda tecnologia têm seu valor e merece reconhecimento na pesquisa, mas desde que não seja uma cobrança abusiva para o setor primário. Caso nossos representantes voltem a se corromperem pela indústria, veremos a mesma cena acontecendo nessa nova indústria dos insumos biológicos. Sabemos que hoje é possível trabalhar com microorganismos ativados na própria fazenda - onfarm - , desde organismos naturais presentes nos estercos de ruminantes e nas matas nativas, assim como cepas selecionadas, organismos vivos, de origem e oferecidos por Instituições de Pesquisas. 

A indústria de produtos biológicos já apresenta um comportamento ganancioso e interessada em abocanhar novamente boa parte do lucro de nosso setor primário, buscando de todas as formas patentear algumas cepas ou misturando contaminantes para evitar a produção natural, fermentação de seus produtos. Esses organismos são seres vivos...  É uma pena que essas indústrias não estejam ao lado dos produtores rurais de forma empática e que, ao invés disso, entram em conflito e se opõem. Existem casos de consultores que foram intimados por organizarem treinamentos que instruem agricultores a fazerem seu próprio insumo. É como se a indústria dos molhos de tomate ameaçasse um agrônomo que ensinou um restaurante a ter uma produção de tomates em seu quintal imaginando que, dessa forma, esse agrônomo e seu restaurante atrapalhariam,  comercialmente, as vendas de tomate processado e dariam um mau exemplo pois estariam criando uma disrupção no sistema. Mesmo o lucro ficando com o restaurante e movesse a economia destes locais.

Um microorganismo produzido na propriedade rural nada mais é do que uma forma de cerveja artesanal. No início se começam com panelas pequenas, no fogão de casa e depois pode-se evoluir para tanques maiores e mais automatizados. Se, por acaso, durante o processo o odor não estiver muito agradável, basta descartar a batelada e ainda podemos fazer análises laboratoriais e ter certeza da qualidade dos fermentados e descobrir o que deu errado. Mas quem aprecia cerveja artesanal, ou já acompanhou quem faz, sabe que um dos segredos está no cuidado com a limpeza durante o processo e que, mesmo em panelas pequenas, podemos fazer cervejas de excelente sabor. Os outros segredos só são descobertos por quem tem atitude e começa a fazer.


fazer cerveja em casa
Produção de cerveja IPA em casa. fonte: https://vinhosecervejas.com.br


Tanques de produção de insumos orgânicos onfarm para uso próprio. Fazenda Cambará




Would this be too much to ask for? (No idea how to make my 5 gal batches into this monumental task, but someday.  Someday...)
Equipamentos para brassagem de cervejas. Fonte: www.brewplants.com/


Equipamentos para produção de insumos orgânicos onfarm, para agricultura. Fonte: Solubio


Utilizar métodos de pulverizações inundativas, mantendo os microorganismos vivos e ativos por mais tempo para alimentar o solo e proteger as plantas, é uma das ações dentro desta prática. Por experiência própria, o maior desafio ainda é o controle da ferrugem asiática, se falando em soja, mas temos convicção de que se alimentarmos os microorganismos do solo para que eles alimentem a planta e quando essas plantas forem bem nutridas sem excessos ela quem irá ativar os beneficios do solo, ocorrendo balanços na relação de nutrientes, poderemos sim ter vegetais com maior imunidade ás pragas e doenças. Porém o que percebemos Brasil a fora é que ultimamente algumas práticas dentro das propriedades rurais estão sobrepondo muitas teorias e irritando alguns renomados consultores já que têm sua formação baseada em ensinamentos, referências e métodos de pesquisa cartesianos e planificados. Muitos agricultores e consultores estão lutando para entender uma metodologia de produção inteiramente nova. A nosssa única libertação é o conhecimento, tudo é motivo de aprendizado

A ERA DO CONHECIMENTO

Devemos nos unir mais quando o assunto é conhecimento, segundo a cultura asiática é o único bem que consideram compartilhável, o que explica a forma como quebram patentes de direitos industriais e intelectuais. O conhecimento deve ser compartilhado, e mesmo nesse novo mercado de vendas de cursos online de todos os tipos, ainda se encontram muitos videos e informações gratuitas, é só procurar na rede.

A tecnica de venda da qual o negociador utiliza a inveja para acertar o ego do possível comprador esta com os dias contados, e esperamos que a forma como irão comercializar  novos produtos agrícolas utilizem técnicas de venda menos prostituídas.

O núcleo desse novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga, a idéia de que a consciência é como se fosse um solo e nele tudo pode existir, agregando experiências que irão refletir na construção e formação de um novo perfil.

O sucesso desta nova agriculura é a paz de espírito, que é um resultado direto da satisfação consigo mesmo por saber que você se esforçou  para dar o seu melhor em se tornar o melhor que é capaz de ser. Portanto, como diria o Prof Luiz José Garcia "devemos viver como se fossemos morrer amanhã e fazer agricultura como se fossemos viver cem anos"



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