Antes de pensarmos em qualquer tipo de evolução nos manejos agrícolas, devemos pensar primeiro na gestão: ter um
controle acirrado dos custos de produção, custos de vida e percentual da
rentabilidade final dos empreendimentos agrícolas. Mas, antes de falarmos sobre agricultar,
devemos pensar no que nos move. Primeiro na cultura, depois no agro. Em cada um
de nós existe algum tipo de inspiração que nos
guia para superar desafios e ser cada vez melhores, ainda que devemos sempre
competir com nós mesmos e com os resultados gerados
dentro da própria fazenda. Muitas vezes podemos nos inspirar assistindo
algum pesquisador revelar manejos de sucesso, assistindo algum filme motivador,
admirar pessoas próximas de nossa vivência ou ensinamentos das que já se foram, e também visitando e trocando experiências com outros produtores rurais sobre boas práticas, afinal a troca de experiências, vivência e evolução são essenciais na superação de desafios. Observando
diferentes realidades, devemos nos influenciar positivamente para fazer o
melhor para nós e para melhorar ainda mais a agricultura
brasileira. No entanto, ainda há uma falta de conscientização ou entendimento entre os agricultores a
respeito da incorporação do uso de novas técnicas em suas operações e o desafio de não deixar o ego cair na cilada das
competições comerciais de produtividade.
Muitas pragas, doenças e plantas daninhas já possuem alguma resistência ao controle feito com móleculas químicas. Estamos vendo megamultinacionais se
fundindo com o intuito de monopolizar essas móleculas por mais tempo no mercado e isso implica em recomendações técnicas para aumentar a dose das aplicações, em
alguns casos. Essas recomendações, muitas vezes, vem dos próprios consultores técnicos das empresas químicas. E, no final, quem leva a culpa é o agricultor... Precisamos, sim, de novas moléculas para garantir a segurança alimentar. Não podemos ser radicais quanto
ao uso de moléculas químicas, entretanto temos a oportunidade de encontrar
outras opções relevantes como, por exemplo, diversas plantas de coberturas, fertilizantes alternativos, manejo biológico, tanto por macro quanto por microorganismos e principalmente aumentar a imunidade das plantas. Podem ser uma ótima ferramenta para aumentar a vida
dessas moléculas químicas mais antigas que já estão batidas. O maior desafio, nesse caso, será integrar
os manejos, já que muitos
organismos vivos tem incompatibilidade com insumos químicos. E nunca podemos esquecer que a
transição de um sistema para outro deve ser harmonioso e que cada um leva o seu
tempo nessa mudança.
Os manejos biológicos são várias ferramentas com soluções naturais de proteção de plantas e de
fitossanidade que podem ser utilizados sozinhos ou como parte de um programa
que incorpora defensivos químicos
e fertilizantes convencionais.
Dos diferentes conceitos de sustentabilidade, podemos dizer que um deles é utilizar a criatividade e inteligência de resgatar a
tradição agrícola com foco em
altas produtividades para alimentar todos os seres do planeta. O reconhecimento
dessa tradição
serve como estímulo para
renovação e inovação. Regenerar a tradição agrícola utilizando biotecnologias, internet das
coisas e inteligência agronômica é o princípio de tudo.
A melhor forma de conhecer esses manejos que estão resgatando técnicas antigas integradas com tecnologias inovadoras de low tech com high tech, é participando ativamente de dias de campo, fórum anual e
encontros técnicos do GAS (Grupo de Agricultura
Sustentável). Esse grupo teve
início na cidade de Mineiros,
Goiás, e já se espalha por
todo o Brasil. Ele consiste, basicamente, de agricultores, consultores e indústrias que buscam novas alternativas para
reduzir custos de produção, aumentar a rentabilidade e melhorar a qualidade do
solo e das plantas, em larga escala. Uma das principais práticas pregadas é a multiplicação microbiológica onfarm,
também chamada de agricultura fermentativa. Nesses
encontros são discutidos, pelos próprios agricultores
alicerçados na ciência, sobre as diversas ferramentas para
aumentar a rentabilidade, diminuir a dependência de insumos químicos
e melhorar a densidade nutricional das plantas e animais. São técnicas baseadas em um manejo alicerçado no tripé “plantas de cobertura, saúde do solo e proteção de
plantas utilizando microrganismos produzidos onfarm”. O objetivo final é ter plantas com maior
imunidade, mais resistentes a pragas e doenças. Já tive a oportunidade de vistar algumas fazendas aqui no Brasil, e em outros
países, que utilizam algumas
técnicas e estão tendo resultados muito satisfatórios.
Mix de plantas de cobertura em fazenda de agricultura biológica, Bio Thorey, na região de Lantages na França. O produtor trabalha com sementes salvas para criar memória genética nas sementes. Utiliza uma diversidade de plantas que possuem quase o mesmo ciclo para colher todas juntas em uma proporção nutritiva ideal para oferecer os grãos colhidos para seu semi-confinamento de animais. São 400 hectares de produção de grãos e pecuária. Agradecimento ao Jeferson de Souza que proporcionou a visita nesta fazenda.
Técnicas hi-tech e low-tech de avaliação da saúde do solo. A esquerda um teste da massa microbiana do solo com equipamento microbiometer e a direita Cromatografia de Pfeiffer
O que percebi, basicamente, é que mesmo em diferentes realidades existem pontos em comum: o esforço para superar desafios constantes, a paz de espírito e o resultado da satisfação em atingir objetivos é o que move e motiva todos nós para melhorar nossos manejos. Essa é a agricultura moderna, saudável, que produz mais com menos, e arrisco dizer, ideal, que integra conceitos e leva em consideração o ensinamento dos processos para serem executados pelos próprios agricultores. O custo é menor, mas o trabalho será maior. Sem ideologias e sem colocar manejos em pedestais. A chave é entender o sistema como um todo e pensar no solo como um confinamento de milhares de seres vivos que necessitam de alimentação constante. E, a partir do momento que nutrimos esses seres, eles irão se alimentar e proteger nossas plantas. Mas antes a ciência deve ampliar os horizontes e nos guiar para entendermos melhor esse novo universo.
Fontes:
GARY F. ZIMMER, Advancing Biological Farming - Practicing Mineralized, Balanced Agriculture to Improve Soils & Crops, 2011.
HERWING POMMERESCHE, Humusphere - Humus: A Substance or a Living System? - Acres USA, 2019
HOLIDAY RYAN, O Ego é seu inimigo - Como dominar seu pior adversário, 2017 pág.218
HOLIDAY RYAN, O Ego é seu inimigo - Como dominar seu pior adversário, 2017 pág.218
GARCIA, LUIZ JOSÉ, Instituto de Agricultura Biologica, https://institutodeagriculturabiologica.org/
FESTIVAL PATH 2019, - Anotações pessoais.
FESTIVAL PATH 2019, - Anotações pessoais.
1 comment:
Muito Bom Marcelo. Precisamos continuar fazendo Agronomia com conhecimentos.
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