Nenhum dos dois. Durante minha última visita ao país asiático, sempre puxava conversa com motoristas de um aplicativo parecido com Uber, que aliás, foi o meu melhor meio de locomoção, pois mesmo a maioria dos motoristas que não falavam inglês, iam direto para o endereço inserido no mapa. Tive ótimas experiências com esse aplicativo, tanto na China quando na Rússia em outra ocasião. Sempre conversava com os motoristas que falavam inglês. Mais de uma pessoa me comentou do interesse em ir morar no campo e trabalhar com produção agrícola, devido aos benefícios oferecidos ao governo e pelo respeito que existe aos agricultores. Em uma das ocasiões o motorista chegou a ligar para uma amiga que queria treinar o inglês. Passei a corrida inteira batendo papo no telefone.
RESISTÊNCIA A SECA
A vida no campo não é fácil, pois dependemos muito do clima. E um ponto crucial é entender a magnitude e natureza do riscos da seca. Isso fez com que se criasse um instituto chinês especializado no combate a seca e impactos na produção, de forma que consigam planejar a resolução de problemas antecipadamente em caso de quebras de safra por estiagem. Esse instituto foca em fomentar o uso de cultivares mais resistentes a seca e orientar os produtores a escalonarem seus plantios com diferentes grupos de maturação e utilizarem mais inteligência no manejo da irrigação de forma simples e racional.
Um dos assuntos que discutimos durante o workshop foi sobre pesquisa em plantas resistentes a seca. Existe grande possibilidade de se conseguir plantas resistentes a seca, pois já se descobriu a enzima que permite tolerância a seca em plantas, chamada Trealose, estável em solução a altas temperaturas, HB4. É uma enzima já conhecida, mas com o auxílio da biotecnologia, daria pra inserir ela em plantas que tem baixa produção de açucares. Em caso de stress as plantas conseguem produzir carboidratos extras, formando o que eles chamam de osmoprotetores e agindo como estabilizador de enzimas durante a desidratação, permitindo que as células da planta mantenha suas funções por períodos maiores.
DESENVOLVIMENTO RURAL CHINÊS
Hà 15 anos atrás a maioria das casas de produtores rurais tinham somente um piso, dois quartos, sala e cozinha, e conforme a família fosse crescendo, iam aumentando ou dividindo os quartos. O conceito de estruturação familiar na zona rural não é nuclear, como na maioria das famílias ocidentais, pois moram no mesmo terreno, as vezes em 3 gerações vivas, mas em ambientes separados. Atualmente as residências rurais de produtores com mais aporte financeiro tem até três andares, do tamanho de pequenos prédios, onde os mais velhos ficam no andar de baixo e os mais novos nos de cima. A maioria não possuem elevadores, as gerações mais novas ficam com o último andar, pois têm mais energia para subir.
Espigas penduradas para trazer boa sorte e boas colheitas |
Os produtores não podem vender suas áreas, pois são propriedades do governo, mas podem vender somente a residência em caso de mudança para cidade, onde outro produtor assume a moradia.
Todos da família trabalham na fazenda que tem um líder. Esse líder é escolhido de forma natural, e hoje é quem controla os acordos e contratos de produção. As vezes por vocação, e desde a época de Mao Tse Tung que nivelou “por baixo” as comunas, sempre existiam líderes natos dentro dessas comunidades, podendo ser o pai, avô ou o filho mais velho. Conversei com alguns produtores e comentaram que a estrutura atual de governança familiar dentro do novo regime misto das fazendas, inibem os jovens, fazendo com que muitos saíssem do campo. Mas hoje isso esta mudando, mesmo com muitas famílias ainda arranjando casamentos, vendendo seu filho e filha para alavancarem mais recursos. Muitos ainda fazem por tradição. Ainda existe pobreza no cerne da vida rural chinesa, mesmo com tanto subsídio e incentivos do governo chinês, percebe-se que não adianta forçar quando não existe vontade em prosperar.
Em subúrbios rurais, perto de grandes cidades, os produtores têm maior diversidade em seu sistema de produção, mas muitas vezes se especializam em alguns tipos de espécies como amendoim, milho, soja, e vegetais para consumo humano que possam comercializar e negociar em forma de varejo na própria fazenda, ruas, ou feiras. O grão de soja também é consumida de forma in natura, fervida com suas vagens ainda verdes, podendo ser descascado direto na boca, acompanhado de um molho entranhado nos pêlos das vagens que se mistura junto com o grão, resultando em um delicioso sabor. Assim como a soja, o amendoim frito também é muito apreciado, com cerveja tipo pilsen.
TRANSFORMAÇÃO RURAL
Algumas empresas privadas estão criando programas de incentivo a negociação para produtores aperfeiçoarem o comércio com técnicas de vendas e barganha. Hoje o produtor rural é considerado um profissional autônomo. Com taxas de impostos reduzidas para incentivar a permanência no campo. Foi criado pelo governo um plano de saúde especial para todas as pessoas do campo. Tudo isso é para diminuir a distância de ganho entre quem trabalha na cidade, comparando com quem trabalha no campo, aumentando os benefícios para quem opta pela vida rural.
O controle de natalidade é muito simples: Se no primeiro nascimento for menina, pode-se tentar mais uma vez, desde que a família tenha condições. Enquanto não nascer um menino até a segunda filha, pare! Se o primeiro filho for um menino, pare!
Nos países mais antigos do oriente as áreas sofreram um tipo de reforma agrária natural no sentido de distribuição de terras, as grandes áreas, foram ficando cada vez menores e divididas entre os membros familiares, conforme o aumento das taxas de natalidade. Após a reforma política comunista, que teve apoio soviético, e outras revoluções, veio então a abertura do mercado chinês e a mudança na transformação rural.
No livro de Jung Chang, ela comenta sobre as visitas de Mao nas zonas rurais, onde os oficiais do interior escolhiam previamente algumas comunas para concentrar a produção de grãos vindas de outros lugares, para receberem mais recursos de Pequim, mostrando uma falsa realidade de abundância produtiva para o então presidente Mao.
Na China existe um programa de responsabilidade pelo uso da terra, considerado o mais longo da história da humanidade, que torna o sistema totalmente dependendo do produtor, pois cada líder ou responsável pela sua área, cria uma dívida com o governo em um contrato com duração que pode variar entre 50 a 70 anos para pagar, devendo ser pago com sua própria produção agrícola. Nesses últimos 10 anos, devido a migração de muitas pessoas do campo para as cidades, estima-se que foram mais de 300 milhões de pessoas, o partido comunista esta isentando algumas taxas de pagamento para os produtores rurais, oferecendo esse seguros de saúde e melhores facilidades de crédito para incentivar a vida no campo.
Em 2003 ocorreu uma enorme queda na na produção, e foi constatado que era devido ao pouco uso da terra e que muitos produtores estavam abandonando as áreas indo para cidades, por falta de incentivo, o que causou problemas no abastecimento de grãos na China. Desde então vários programas de incentivos aos produtores vem sendo oferecidos.
Atualmente os produtores recebem o equivalente a 300 dólares por hectare durante o ano agrícola. Sendo que um custo médio de arrendamento é 180 dólares por hectare, podendo variar conforme a região.
COMUNISMO CAPITALISTA OU CAPITALISMO COMUNISTA?
Ao perguntar para alguns chineses sobre o atual modelo político, mesmo eu sabendo que metade da população é contra o regime atual, um colega do curso me respondeu com uma analogias bem interessante. “Que não existe diferença entre colocar um pinguim viver no deserto ou um camelo a viver no ártico”. São dois sistemas ecológicos completamente diferentes, mas com um objetivo em comum: sobrevivência. Portanto, não interessa se o país é capitalista ou com fragmentos socialista, desde que sempre busque boa qualidade de vida para a maioria da população sem desencorajar as empresas de seguirem prosperando.
No comments:
Post a Comment