February 19, 2017

RESERVA DE GRÃOS E CARNES


RESERVA DE GRÃOS

Centro demonstrativo de agricultura moderna de Hubei
Uma das reuniões que mais me chamaram a atenção foi sobre como a China gerência toda sua produção de grãos. Antes de tudo, gostaria de salientar que a Organização Mundial para Alimentação e Agricultura (FAO) informa e recomenda que a reserva de grãos dos países devem manter em estoque em torno de 17% do total de grãos produzidos de soja, feijão, trigo, milho e arroz. O Brasil esta um pouco abaixo da recomendada, com 7% de estoque. Muito de nós não sabemos que esses grãos estão diretamente ligados com a segurança alimentar e estabilidade econômica na maioria dos países. A reserva chinesa é de 25% de seus grãos, ou seja, de todo grão que esse país consome, deve ter um estoque de 1/4 de toda produção produzida e importada. Só com as reservas de milho da China, poderiam encher quase 40 estádios do Maracanã. 

É impraticável serem auto suficiente na produção de grãos, pois o consumo e as reservas são muito grandes sem falar que e não têm áreas suficientes para produzir no atual sistema agrícola. Existem projetos já sendo implantados para unificarem as lavouras e facilitar o uso de mecanização e novas bio tecnologias. Tive a oportunidade de conhecer o Oil Crops Research Institute, de pesquisa em óleo, no qual eu e meu colega Pitur professor e diretor da faculdade de Agronomia de Bangladesh, fomos muito bem recebidos e tivemos uma longa e prazerosa conversa com o pesquisador Chen-mio, sobre novas políticas para a integração dos sistemas agrícolas na China.


NOVAS COOPERAÇÕES COM OS AGRICULTORES

Querem criar grupos de produtores para mecanizar, ficando mais fácil e eficiente de produzir, com um trabalho unificado, administrando a produção de forma empresarial. Por meio de um novo modelo de arrendamento de terras por holdings, os produtores acabam se tornando a mão de obra para produzir, recebendo muito bem para isso, garantindo uma rentabilidade maior. As áreas serão manejadas e administradas por empresas ligadas ao governo. 

Em alguns países da África, algumas corporações já tentaram criar esse tipo de programa de gestão em unificar produtores, porém sem sucesso. Mas na China tudo é possível, ainda mais com a severa imposição ditatorial, e as vezes benéfica, do governo. Se isso acontecer, teremos um aumento na produtividade e maior mecanização das fazendas, que será a nova revolução verde asiática dos últimos tempos.

Nesses trinta dias que fiquei na China, consegui captar diferentes percepções, informações relevantes sobre os sistemas de produção, políticas agrícolas, características culturais, filosofias, superstições e análises fundamentalistas de grãos que se contradizem com informações de jornais ocidentais.

Workshop na Universidade de Agricultura de Huazhong 
Agricultura convencional. É o que resta, por enquanto, para a maioria dos produtores rurais chineses, o governo compra boa parte da produção com preços maiores que o do mercado internacional, de áreas com tamanho médio de 0,8 a 1 hectare. Ué? Mas porque não 0,9? Talvez porque não seja simples estimar uma população de 500 milhões de habitantes nas zonas rurais, sendo que 300 milhões são produtores rurais em 30 milhões de hectares. 
É… As vezes não podemos nos basear somente em números para julgarmos as realidades.

As vezes ouvimos algumas notícias de que a China irá aumentar sua área cultivada de soja. Todo ano saem notícias assim, de jornais alarmistas. São com notícias sensacionalistas que alguns jornais de países dependentes da venda ou da compra de grãos tentam manipular os investidores para baixar ou aumentar os preços, dependendo do interesse. Mas iriam deixar de plantar 2 milhões de hectares de milho por soja. Uma vez essa notícia veio de um jornal inglês. A maioria dos países europeus são importadores do grão. Suspeito. Ou seja, 2 milhões de hectares de soja na China seria uma quantidade equivalente a 1 mês de importação. A maioria dos grãos de soja produzidos na China são para consumo humano. Tipo tofu, leite de soja, shoyu ou mesmo in natura com alho óleo e alguns temperos. Em torno de 6% de toda soja produzida no mundo é consumido dessa forma na Asia. O restante vira farelo e óleo.


                                           Lavoura de soja no interior da província de Hubei 

A China irá continuar importando soja para processar em forma de óleo vegetal 50% e o restante e farelos e subprodutos, principalmente para alimentar aves e suínos. O óleo vegetal, tanto de soja, canola, milho ou amendoim, foram um dos principais fatores de aumento na qualidade de vida das pessoas na China. 


CONSUMO DE CARNE

Os chineses também estão comendo carne bovina. Alguns restaurantes mais especializados, notei que já têm no cardápio carne bovina importadas da Austrália e Estados Unidos, com marmoreio, maciez e sabor. Quando o governo chinês decidir incentivar a produção de gado confinado, com certeza terá uma demanda ainda maior pelo grão de soja para alimentar esses animais. Mas acho isso difícil de acontecer, a não ser que se mude muito os sistemas de produção. Na província de Hubei, vi alguns produtores de pecuária utilizarem pastagem cultivada para engodar os animais, que aparentemente apresentavam escore baixo. Para quem conhece confinamento, sabe que um animal precisa se alimentar de no mínimo 3% de seu peso vivo com farelos ou grãos energéticos e proteicos.

Alguns índices indicam que o Brasil ultrapassou a Austrália nas exportações de carne bovina. Na capital da China central, em Wuhan, só vi bandeiras dos estados unidos e Austrália impressas nos cardápios de carnes nesses restaurantes especializados.

O consumo per capita desta carne na China está quase batendo o recorde de 4kg por habitante por ano. Um boi gordo no Rio Grande do Sul, poderia servir 5 gaúchos, enquanto que na China mais de 60 chineses. Ou seja, se realmente aumentar o consumo de carne bovina, e isso irá acontecer gradualmente, seria mais barato abrir mão de alguns milhares de hectares de grãos de seu mercado interno para produção própria de gado confinado, importando essa diferença em grãos.

Tudo vai depender no rumo da política agrícola chinesa. É ela quem guia os produtores, tanto na China quanto no Brasil. A China está muito mais interessada em produzir e investir na produção de óleo vegetal do que em fontes de proteína. Se o partido decidir incentivar os produtores rurais chineses a produzirem carne bovina o consumo irá aumentar, e pelo que percebi não duvido que isso demore para acontecer, teremos uma demanda ainda maior de nossa oleaginosa. 

No comments: